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terça-feira, 28 de março de 2017

--EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA-José Salviano.




5º DOMINGO QUARESMA


Evangelho - Jo 11,1-45




2 de Abril de 2017 

Queridas irmãs e irmãos. O mundo de hoje nos sufoca, nos ilude nos engana, nos desestimula a dar testemunho da verdade, testemunho da nossa fé. Somos arrebanhados a imitar aqueles que vivem para o consumismo, para o prazer, para o dinheiro, para a mentira de que o inferno é aqui mesmo, a mentira de que o corpo é nosso e por isso podermos fazer dele o que bem o quisermos. 

O Evangelho de hoje nos mostra que a morte e ressurreição de Lázaro nos conduz a refletir sobre a nossa existência, a nossa situação atual de vida. Quaresma é tempo de conversão. É tempo de sairmos do túmulo em que estamos, inertes, anestesiados pelas tentações, entorpecidos por tantas alucinações não só de ordem química, como de ordem social, psicológica e mesmo religiosa, o que nos faz mortos para Deus.  Então, a exemplo de Lázaro, voltemos à vida, vamos saborear uma vida nova, um presente da força e do poder de Jesus.

SEGUNDA LITURA

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 8,8-11

Prezados irmãos:  Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus.   Estão mortos para Deus, e por tanto, precisam ser ressuscitados, precisam voltar à vida, vida da graça.  Viver segundo a carne, é exatamente o contrário de viver segundo o espírito. Aqueles que vivem segundo a carne, se entregaram aos prazeres egoístas, vivem apenas o momento, não têm em mente os ensinamentos de Jesus. São presas fáceis  do diabo, e a cada dia se enterram na areia movediça das ilusões do pecado! Eles precisam da nossa ajuda para sair dessa e voltar a viver como nós.
        
Viver segundo o espírito é respirar a brisa suave que vem de Deus, é saborear a palavra, ao  mesmo tempo que a transpira em abundância para todos em sua volta. Viver segundo o espírito é  estar nesta vida  porém, voltado para a vida eterna. É estar com um pé na Terra e outro no Céu. É não se importar com as dores do seu corpo, pois a sua mente supera tudo pela força vinda do alto. Aquele e aquela que vive segundo o espírito, está sempre preocupado em fazer com que os demais também vivam como ele ou ela. Quem vive segundo o espírito, embora esteja na carne, não é levado por ela, não é dominado pelos instintos, embora os usa, porém pela forma correta e abençoada pela Igreja de Deus.

Para viver segundo o espírito precisamos rezar mais. Muito mais. Foi Jesus quem disse: Vigiai e oraiO espírito está preparado mais a carne e fraca.  Desse modo, as pessoas mais santas podem a qualquer momento, cair em tentação, e pecar. Somos como vasos de barro, transportando a palavra ou graça de Deus. A qualquer momento pode pintar, aquela tentação. A qualquer momento do nosso dia, pode aparecer diante de nós, uma tentação para a qual pensamos: Não! Essa eu não vou resistir! É maior que as minhas forças... Nos esquecemos que nunca seremos tentados acima das nossa forças. Então, somos vencidos. Caímos. Em seguida, duas coisas invadem a nossa mente: Correr para a reconciliação com Deus, procurando um sacerdote, o que não é nada fácil, pois mesmo que estejamos em uma região onde  tem padres, eles estão sempre ocupados e não podem atender na hora que queremos ou que precisamos.  A outra opção que aparece na nossa mente é movida por satanás, que fica  por perto nos atentando a repetir aquele pecado. Deixa de ser bobo! Já que você caiu mesmo, faz mais um vez! Aproveita! Depois você confessa.  Acontece que nem sempre é fácil encontrar um padre por perto, principalmente nas regiões onde eles são escassos.  E depois de cair uma vez, caímos mais uma, e mais outra, até chegarmos ao fundo do poço e ficar na depressão total...

...Orai sem cessar...  Que significam estas palavras de Jesus? É para a gente andar pela rua gritando: Aleluia! Meu Deus! Como faziam os fariseus?  Não. Não é isso que Jesus disse, não é isso que temos de fazer. Rezar sem cessar, é estar com a mente sempre ligada em Jesus, em Deus por Jesus. É falar com Deus a todos os momentos do nosso dia. No trânsito, nos perigos: Jesus, socorro! Nos momentos alegres: Obrigado, meu Deus. Nas dificuldades ou nas tentações: Meu Deus me ajude! E assim por diante. Rezar sem cessar, não significa dar uma de doido e sair pela rua gritando o nome de Deus.

O espírito pode até estar preparado, mais a carne é muito fraca.  Caríssimos. Mesmo que  estejamos em Cristo, na sua presença, se descuidarmos da oração, o “bicho pode pegar!” Corremos o dia todo, umas não podem perder a novela, outros não podem deixar de assistir o futebol, outros e outras não podem faltar na academia, etc. São muitas as atividades, além do trabalho diário para a manutenção da casa e da sobrevivência.  E assim, nunca sobra um tempo para Deus, o que na verdade é um tempo para a nossa alma. Porque Deus não precisa de nós, mas sim nós é que precisamos de Deus, precisamos a cada momento estar  conectados a Ele, pois somos fracos, carentes, limitados, tentados, e ou mesmo até viciados...


EVANGELHO

Jesus  manda Marta chamar a sua irmã, Maria, a qual havia se isolado por causa da dor de perder o irmão. É uma tendência do ser humano se isolar nos momentos de dor, sem querer falar com ninguém, nem mesmo com Deus. É o exemplo da garota que perdeu o namorado, se fecha no quarto e deita de bruços  atravessada na cama e lá fica a chorar.  Muitas pessoas pensam que é melhor se isolar para poder superar aquele sofrimento que lhes parece insuportável. É uma grande ilusão.  Porque neste caso, o sofrimento aumenta ainda mais. Sem a partilha com outras pessoas, mesmo que não sejam amigas, aí é que o peso da dor parece ficar realmente insuportável!  Outras pessoas, ficam cabisbaixas, tristes, exatamente para chamar a atenção dos demais, pois estão carentes de um afago, de um consolo.  É aí que entra em ação  o cristão, a cristã praticante, para acolher  aquela pessoa magoada pela vida, pela sua vida, pelo uso errado de sua liberdade. Convidando-a, encorajando-a voltar a superar o sofrimento e a dor, e a voltar a viver com abundância com a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Maria não foi culpada da morte de seu irmão, o que foi fruto de uma fatalidade.  Porém, muitos de nós somos culpados das nossas depressões, angústias e muitos dos sofrimentos pelos quais passamos, pelo mau uso que fazemos da nossa liberdade. 

Hoje estamos a aproximadamente dois meses do carnaval, e muitos são aqueles que estão sofrendo as consequências da grande festa do reinado de momo, na qual a diversão foi sem limites. Muitas estão hoje se lamentando o fato de estarem GRÁVIDAS, muitos e muitas estão em pânico por ter descoberto que estão com AIDS, outros estão prostrados na cama, sem poder trabalhar, por estar com CIRROSE, e ainda outros que perderam o emprego por causa da grande folia, isso sem falar nos assaltos principalmente aquelas pessoas que voltaram para casa altas horas...

Porém, Jesus bondoso e amoroso, vem sempre ao encontro daqueles e daquelas que se encontram isolados por causa do sofrimento e da dor, do sofrimento ou  da morte, e os convida  a voltar a vida, a voltar a viver a graça de Deus Pai.

Quando os amigos de Jesus o avisaram da morte de seu amigo Lázaro, Jesus disse que a situação de seu amigo tinha como finalidade a própria glória de Deus. Glória que não foi um ganho para Jesus, mas sim para nós.  O que Jesus quis dizer, foi que a morte de Lázaro não significou uma morte em si, mas sim um milagre com o objetivo de aumentar a nossa fé, e de nos fazer evitar a pior morte, que é a morte da nossa alma pelo pecado mortal, que nos impede de ir para a vida eterna.

Portanto, a morte de Lázaro nos significou vida. Pois teve a finalidade de nos convidar a CONVERSÇÃO, de nos conduzir a correção dos nossos atos, da nossa caminhada, da nossa vida errante. O ditado popular diz: Tem males que vêm para o bem. Ou, Deus escreve certo com as letras tortas.  Desse modo, muitas coisas aparentemente ruins que nos  acontecem, no fundo são boas para a  correção da nossa trajetória de vida. São como puxões de orelhas de um  Pai que nos ama e quer a nossa felicidade eterna.

A quaresma chega ao seu fim e precisamos rever a nossa vida. Analisar se estamos vivendo segundo a carne ou segundo o espírito.  Ou se estamos vivendo mais pela carne ou mais pelo espírito. Viver para os dois é diametralmente impossível! Ou somos ou não somos cristãos.  Ser um cristão morno, meia boca, ou pela metade, não vai dar certo. Então, meus irmãos. Está na hora de pegarmos as nossas cruzes e seguir a Jesus.  Não tenhamos medo das cruzes.  Lembremos que as recompensas são bem maiores que elas.


E você? Está cuidando da sua conversão?  Vai que ainda é tempo!


Tenha fé! Tenha um bom domingo. José Salviano.
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Deus se revela por meio da palavra profética. Na primeira leitura, Ezequiel anuncia vida nova para os que se encontram sem esperança, no túmulo do exílio da Babilônia. Deus ama prioritariamente o povo em situação de sofrimento. Está junto aos exilados e promete-lhes a volta à terra de Israel, devolvendo-lhes a liberdade. O dom do Espírito de Deus revigora o coração do povo e lhe suscita vida (I leitura). A revelação plena de Deus se dá na pessoa de seu Filho, Jesus. Ele é o caminho da vida por excelência. Pelo relato da ressurreição de Lázaro, a comunidade cristã afirma que Jesus é a ressurreição. Quem vive e crê nele jamais morrerá (evangelho). Deus se revela também por meio do testemunho dos seguidores de Jesus, como o de Paulo. Escrevendo aos romanos, orienta-os para uma vida nova proveniente da fé em Jesus Cristo. É a vida no Espírito. Ele habita em cada pessoa e suscita vida aos corpos mortais (II leitura). Os três textos enfatizam a vitória da vida sobre a morte como dom de Deus. O seu Espírito nos faz novas criaturas: transforma, reanima, fortalece, ressuscita…
1ª leitura (Ez. 37,12-14) - Porei o meu Espírito em vós
Na tradição judaico-cristã, profecia é tempo de graça: tempo que se faz pleno porque Deus se comunica e interpela seu povo, recordando a sua aliança e demonstrando o seu amor. Ezequiel profetizou junto aos exilados na Babilônia ao redor do ano 580 a.C. O povo encontra-se mergulhado em profunda crise. Está longe da terra que Deus lhes concedeu conforme a promessa feita a Abraão. Sente-se abandonado por Deus e sem esperanças de futuro. A situação realmente parece desesperadora. Nesse pequeno texto, aparece três vezes a palavra “túmulos”. Deus, porém, não se conforma com a morte de ninguém. Por isso, suscita o profeta Ezequiel para anunciar novo tempo: vai infundir nos exilados o seu Espírito, que lhes dará força e coragem para se reerguerem das cinzas.
Em nome de Deus, Ezequiel anuncia um novo êxodo. No primeiro êxodo, Deus libertou o seu povo da escravidão do Egito e lhe deu a terra prometida. Deus também vai livrá-los do domínio da Babilônia e serão reintroduzidos na terra de Israel. O jugo estrangeiro será quebrado, e o povo disperso (parecendo ossos secos espalhados num vale) poderá voltar a se reunir em sua própria terra, onde habitará com segurança. Isso acontecerá pela intervenção gratuita de Deus. Ele desperta para a vida os que se encontram em situação de morte. Faz sair os esqueletos dos seus túmulos. Reanima os “cadáveres ambulantes”. O seu Espírito penetra nos corpos sem vida. O povo disperso e abandonado toma consciência de que é amado por Deus e, por isso, descobre-se como capaz de mobilizar-se para a reconquista da terra de liberdade.
 Evangelho (Jo 11,1-45) - Jesus é a ressurreição e a vida
A narrativa da ressurreição de Lázaro corresponde ao último dos sete sinais de libertação realizados por Jesus no Evangelho de João. Os relatos dos sete sinais procuram levar os cristãos a refletir sobre o sentido profundo dos fatos da vida humana: a falta de vinho numa festa de casamento (2,1-12), a doença do filho de um funcionário real (4,46-54), o paralítico à beira da piscina de Betesda (5,1-18), a fome do povo (6,1-15), o barco dos discípulos ameaçado pelas águas do mar (6,16-21), o cego de nascença (9,1-41) e, finalmente, a morte de Lázaro. Todos eles visam apresentar Jesus como o Messias que veio para resgatar a vida plena para os seres humanos. Em cada sinal, percebe-se um propósito pedagógico: a representação de um caminho novo apontado por Jesus para derrubar todas as barreiras que impedem a pessoa de realizar-se plenamente.
Jesus é o “Bom Pastor” que dá a vida por suas ovelhas (cf. 10,11). Ele é o verdadeiro caminho para a vida com dignidade e liberdade, vencendo as causas de todos os males. Vence a própria morte: é a vida definitiva. Somente os que creem em Jesus, com convicção, compreendem e acolhem essa verdade. Portanto, a finalidade principal dos sinais é levar os discípulos à fé autêntica. Ao informar que Lázaro havia morrido e, por isso, iria ao seu encontro, Jesus diz aos discípulos: “É para que vocês creiam” (11,15). Também lemos no final do evangelho: “Jesus fez ainda muitos outros sinais, que não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham a vida em seu nome” (20,30-31).
As personagens que aparecem no relato – Marta, Maria e os judeus – refletem diferentes concepções a respeito de Jesus. Primeiramente, podemos observar o comportamento de Marta. Sabendo que Jesus chegara a Betânia, “saiu ao seu encontro” e a ele se dirigiu, chamando-o pelos títulos cristológicos de “Senhor” e “Filho de Deus”. Diante da promessa da ressurreição, declara-lhe convictamente sua fé: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo”. E vai anunciar à sua irmã Maria, que, por sua vez, imediatamente segue ao encontro de Jesus, mas não consegue declarar a fé nele como fez Marta. Está ainda angustiada e paralisada diante da realidade da morte. Já os judeus apenas seguem Maria, sem ter consciência de ir ao encontro de Jesus nem muito menos fazer-lhe alguma confissão de fé.
São três modos de comportar-se diante de Jesus. O comportamento de Marta é o retrato das pessoas que têm fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, Salvador da humanidade. Para os que acreditam nele, a ressurreição é uma realidade não apenas para o futuro, mas para o presente. Toda atitude em favor da vida é sinal de ressurreição e gesto de glorificação a Deus, criador e libertador.
Os autores do evangelho fazem questão de mostrar o rosto humano de Jesus. Ele participa da dor das pessoas que sofrem, comove-se e chora. Sua comoção, porém, pode ser traduzida como impaciência com a falta de fé tanto de Maria como dos judeus. E, para além das lamentações, Jesus reza ao Pai para que, diante desse sinal definitivo da ressurreição, “eles acreditem” nele como enviado de Deus.
Lázaro (cujo nome significa “Deus ajuda”) está enterrado há quatro dias. O “quarto dia” refere-se ao tempo depois da morte de Jesus; é o tempo das comunidades que creem em Jesus morto e ressuscitado. Portanto, é o tempo da graça por excelência, que deve ser vivido de forma totalmente nova. Lázaro e as comunidades cristãs são chamados a sair dos túmulos do medo, da acomodação, do egoísmo e da tristeza; são chamados a “desatar-se” das amarras dos sistemas que oprimem e matam. As pessoas de fé autêntica, seguidoras de Jesus, são verdadeiramente livres. O “quarto dia” é o tempo da ressurreição, dom de Deus.
2ª leitura (Rm. 8,8-11) - Vida nova no Espírito Santo
Viver no Espírito de Cristo é o que propõe são Paulo aos romanos. Somente no capítulo 8, aparece mais de 20 vezes a palavra “espírito”. A vida no Espírito Santo contrapõe-se à vida segundo a carne, ou seja, aos instintos egoístas. Toda pessoa carrega dentro de si essas duas tendências, que lutam entre si permanentemente. Aquelas que foram regeneradas em Jesus Cristo estão mergulhadas em seu Espírito. Por isso, possuem a luz e a força do próprio Jesus, que realizou a vontade de Deus e redimiu a humanidade. Ele nos justificou pela graça e nos tornou novas criaturas, participantes de sua natureza divina.
Estar com o Espírito de Cristo, porém, não significa anulação da tendência para o pecado. A tensão à santidade deve ser permanente. É uma questão de opção fundamental pelo mesmo modo de pensar e de agir de Jesus. Ele mesmo advertiu que “ninguém pode servir a dois senhores”. Paulo lembra que os cristãos não podem viver segundo a carne e segundo o Espírito ao mesmo tempo. Não se pode viver na liberdade e na escravidão ao mesmo tempo.
Na carta aos Gálatas, Paulo escreve: “Foi para sermos livres que Cristo nos libertou” (5,1). Ele nos libertou da escravidão do pecado por pura graça. Portanto, somente na graça de Jesus Cristo vivemos a autêntica liberdade. Somente no Espírito de Jesus nos libertamos da escravidão das obras dos instintos egoístas. E, para não haver dúvidas sobre os dois caminhos que se opõem entre si, Paulo fala a respeito das obras que caracterizam cada um deles. “As obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas… Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl. 5,19-23).
Uma vez que aderimos, pela fé, a Jesus Cristo, a ele pertencemos e seu Espírito habita em nós. Esse Espírito é o agente das obras que agradam a Deus. Podemos, então, contar com a plenitude de sua graça. Assim, morremos para as obras do egoísmo e permanecemos na vida. Pois o mesmo “Espírito daquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dá a vida aos nossos corpos mortais”. Temos a graça de viver desde agora a vida eterna, pois em Cristo fomos divinizados.
Pistas para reflexão
– O Espírito de Deus move a história. Como foi revelado ao profeta Ezequiel, não há situação que não interesse a Deus. Ele intervém na história humana para transformá-la em história da salvação. Concede seu Espírito para libertar o ser humano de toda espécie de escravidão e conduzi-lo à liberdade. O Espírito de Deus nos faz sair dos “túmulos” da desesperança, do medo, da acomodação… Deus não se conforma com o abandono e a morte de ninguém. Ele é o Deus da vida em plenitude. As crises e dificuldades de nosso tempo são desafios que podem ser enfrentados como fez o povo exilado na Babilônia: na confiança em Deus e na esperança ativa.
– Jesus é a fonte da verdadeira vida. Como “Bom Pastor”, ele se interessa pelas necessidades de todos nós. Oferece sua amizade e sua companhia permanente. Conta conosco para continuar sua obra. Os sinais que ele realizou são indicativos para a missão das comunidades cristãs. A ressurreição de Lázaro aponta para o novo modo de ser Igreja, organizada de forma participativa e corresponsável. Uma Igreja composta de pessoas redimidas pela graça, ressuscitadas em Cristo. Cada um de nós é chamado a declarar sua fé de modo prático, na certeza de que o bem pode vencer o mal e de que a morte não tem a última palavra. Nesse sentido, é importante que prestemos atenção nos apelos da Campanha da Fraternidade deste ano.
– O Espírito de Cristo mora em nós. Cabe a cada pessoa viver de tal modo que esteja permanentemente na comunhão com Jesus Cristo. Se nos deixarmos conduzir pelo Espírito de Jesus que habita em nós, realizamos as obras que agradam a Deus. Morremos para o egoísmo e ressuscitamos no amor. Nosso corpo mortal recebe a graça da imortalidade. Se, porventura, quebramos essa unidade, Deus nos concede a graça da reconciliação. Eis a Quaresma, tempo de conversão, tempo de salvação.
Celso Loraschi




Jesus e a morte da humanidade
1. A vida de muitos tem sido como um túmulo que devora as esperanças. Muita gente tem razão de se queixar: "Nossos ossos estão secos, nossa esperança está desfeita. Para nós tudo está acabado" (1ª leitura: Ez. 37,12-14). Nosso país está cheio de Lázaros, Martas e Marias, e o consolo que eles recebem são pêsames e amarras sempre mais consistentes (evangelho: Jo 11,1-45). Isso porque uma minoria optou por viver segundo seus instintos egoístas (2ª leitura: Rm 8,8-11), gerando a cada dia uma sociedade sempre mais desigual e injusta.
2. A esperança vem da Palavra de Deus. Ele nos tira dos túmulos e por seu espírito nos faz reviver. Jesus nos mostrou que a morte não tem a última palavra. Mais ainda, ele nos ordena que desamarremos e deixemos caminhar todos os que estão sendo impedidos de viver, pois o Espírito que o animou a libertar os oprimidos e ressuscitar os mortos está presente em nós pelo batismo.
1ª leitura (Ez. 37,12-14) - Javé liberta seu povo da morte
3. Como se sentia o povo de Deus exilado na Babilônia? A resposta a esta pergunta está em Ez. 37,11: "A casa de Israel anda dizendo: Nossos ossos estão secos, nossa esperança está desfeita. Para nós tudo está acabado". Este versículo, por sua vez, procura explicar o sentido daquilo que o profeta viu, ou seja, uma multidão de ossos secos que se cobrem de nervos, carne e pele, formando enorme exército de seres vivos (37,1-10).
4. O povo de Deus no exílio tomou consciência de sua situação: ele é como ossos ressequidos dentro de um túmulo, ou seja, um povo morto. E toma consciência também de que o exílio do povo, a perda da liberdade e dos bens que garantem a vida é resultado da má administração das lideranças políticas.
5. Por meio de Ezequiel, o Deus que promete e cumpre (v. 14b) anuncia que vai abrir os túmulos e tirar seu povo das sepulturas, a fim de reconduzi-lo à terra de Israel. Trata-se de linguagem simbólica que denuncia a situação de morte em que vive o povo exilado (túmulos) e anuncia a libertação, traduzida em termos de volta à própria terra.
6. O povo estava muito desanimado e havia perdido a memória dos grandes feitos libertadores de Deus. Por isso o texto insiste em afirmar que ele é Javé, aquele que fala e cumpre o que diz (vv. 13-14). Com isso Ezequiel pretende reavivar no povo a memória dos acontecimentos narrados no livro do Êxodo, ou seja, a presença do Deus que ouve os clamores do seu povo e o liberta de seus opressores. A ação de Javé tem conotação política: tomar consciência das causas que geram a desgraça do povo e agir para transformar radicalmente a situação.
Evangelho (Jo 11,1-45): Jesus e a morte da humanidade
7. A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal do quarto evangelho. A função dos sinais é levar as pessoas a tomar partido: a favor de Jesus e da vida, ou contra ele e a favor da morte. De fato, Marta crê que Jesus é a Ressurreição e a Vida (vv. 25-27), ao passo que as autoridades político-religiosas dos judeus declaram a morte de Jesus (v. 45ss). A ressurreição de Lázaro é também o ponto alto do ensino batismal das primeiras comunidades cristãs. Esse episódio pretende conduzir as pessoas à profissão de fé em Jesus-Vida (20,31).
8. A ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para uma realidade maior e mais profunda: a vitória de Jesus sobre a morte e sua glorificação. Este é o sentido do v. 4: "Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela".
9. Lázaro, Marta e Maria são a própria humanidade envolta em situações de morte. A doença dele é a doença do mundo; suas amarras (v. 44) são as amarras de todas as pessoas impossibilitadas de andar e viver (perda da liberdade que gera opressão política). E para todos eles Jesus dá a mesma ordem: "Desamarrem-no e deixem que ele ande". Marta e Maria recordam o sofrimento, esperança e fé dos sofredores de ontem e de hoje. E Betânia é toda comunidade com suas esperanças e temores de que a morte tenha a última palavra sobre nossas vidas.
a. Vv. 1-16: Amor gera confiança…
10. Entre Jesus, Lázaro, Marta e Maria, isto é, entre ele e a comunidade cristã, e entre os membros da comunidade, vigoram relações de amor e fraternidade. Maria era aquela que ungiu o Senhor com perfume e que tinha enxugado os pés dele com seus cabelos (v. 2). Ungir com perfume é gesto de amor. Além disso o texto sublinha que Lázaro é amigo de Jesus (v. 3) e vice-versa. Amor gera confiança e solidariedade em situações difíceis. (Notar como nesses versículos iniciais se insiste nas palavras amor, amizade, irmão/irmã.)
11. A doença que provocou a morte de Lázaro não é sinal de que Jesus não ame a humanidade. Para ele, a doença que conduz à morte é de outro tipo: trata-se do pecado, que é adesão a um arranjo social injusto (cf. 5,14: "Não peque de novo, para que não lhe aconteça alguma coisa pior"). Jesus não livra somente da morte física. Ao contrário, dá-lhe novo sentido. Assim, os que crêem não têm motivos para temer a morte.
12. A relação de amor culmina na Hora de Jesus. Nesse sentido, a ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para a realidade profunda do evangelho, isto é, a revelação de que a morte-ressurreição de Jesus é a prova maior do amor que Deus tem pelos seus. É por isso que Jesus tem coragem de voltar à Judéia, fato ao qual os discípulos se opõem, com medo de que ele seja morto. Jesus vai à Judéia a fim de res-suscitar seu amigo. Isso acarretará a morte de Jesus, que é a expressão máxima de solidariedade com os sofrimentos humanos. Mas o Pai o ressuscitará, e sua ressurreição é a prova definitiva de que a vida vence a morte.
13. À coragem de Jesus opõe-se o medo dos discípulos (v. 8) que relutam em aceitar o projeto de Deus. Na pessoa de Tomé, decidem ir ao encontro da morte (v. 16), pois não entendem que, para o Mestre, a morte é apenas sono (vv. 11-12).
14. Jesus é a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça. Mas quem caminha de noite, tropeça, porque não há luz nele (v. 9). Essa afirmação de Jesus recorda toda sua atividade libertadora iniciada em Caná da Galiléia (cap. 2), onde realizou o primeiro de seus sinais. O dia de Jesus inicia em Caná e termina com a ressurreição de Lázaro. Depois disso começa a "noite", isto é, o tempo dos tropeços: os discípulos caem, as autoridades matam Jesus… O dia recomeça definitivamente na manhã da ressurreição… Jesus se alegra por causa disso, pois o contraste entre morte e alegria já prenuncia a vitória do Ressuscitado.
b. Vv. 17-27: …que gera fé em Jesus, Ressurreição e Vida…
15. Jesus chegou a Betânia quatro dias após a morte do amigo. Para o povo da Bíblia, o quarto dia após a morte significa a perda total de esperança. O diálogo de Jesus com Marta manifesta a precariedade da esperança, pois ela crê apenas que seu irmão irá ressuscitar no último dia, de acordo com a crença daquele tempo. Contudo, Marta é mais forte que a irmã, pois esta fica sentada em casa (v. 20), enquanto a outra sai de casa (do ambiente de desespero) e toma a iniciativa de dialogar com Jesus.
16. Jesus convida Marta a crescer na fé. Para ela, teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte do irmão (v. 21), e ela interpreta as palavras do Mestre em termos de ressurreição no final dos tempos (v. 24).
17. O texto apresenta duas formas contrastantes de se solidarizar diante da morte. Em primeiro lugar, a solidariedade dos amigos e vizinhos (v. 19), que vão à casa das irmãs para dar pêsames e fazer lamentações em altos brados, símbolo do desespero. Em segundo lugar, a solidariedade de Jesus. Ele não entra nesse ambiente dominado pelo desespero. Fica fora e chama para fora, porque traz do Pai a forma perfeita de solidariedade: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que esteja morto vai viver! E todo aquele que vive e crê em mim não ficará morto para sempre" (vv. 25-26). Marta é convidada à fé madura, passando da presença física à adesão à pessoa de Jesus. Esse processo, contudo, é gradual e lento (cf. v. 40).
c. vs. 28-44: …que faz passar da morte à vida
18. Marta deu provas de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo (v. 27), e testemunha isso à irmã sem esperança. Os que são dominados pelo desespero crêem que Maria estivesse indo ao túmulo para chorar (v. 31), mas ela foi para o lugar onde estava Jesus (v. 32a). Maria ainda pensa à semelhança de sua irmã, antes que esta declarasse sua fé em Jesus Ressurreição e Vida (v. 32b). Maria chora, e seu choro é acompanhado pelos judeus que com ela estavam (note-se que não se fala do choro de Marta!). Jesus também se comove (vv. 33.38), mas seu choro não é marcado pelo desespero. É um choro de solidariedade com os sofrimentos humanos.
19. Jesus manda tirar a pedra do túmulo, apesar de Marta lhe recordar que não há mais esperança (v. 39). Ela e todos os que aderem a Jesus são chamados a ler os sinais em profundidade: "Eu digo isso por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste" (v. 42; cf. v. 45 e leia 20,31).
20. Lázaro, ao apelo de Jesus, sai do túmulo de braços e pernas amarrados (v. 44a). São as amarras que impedem às pessoas serem livres e viver. Jesus ordena que os presentes o desamarrem e o deixem ir (v. 44b). Para onde terá ido? Só descobriremos o rumo que ele tomou se lermos o fato na profundidade da fé.
21. Lido à luz da nossa realidade hoje, o episódio recorda a morte de tantos que vivem sujeitos a este sistema injusto e opressor, causador de morte e opressão... (Lázaro) e a falta de consciência das pessoas (Marta e Maria) de que é possível transformar essa situação de morte em vida. – Soltar as amarras torna-se, então, conscientização sócio-política em vista da participação dos cidadãos nos destinos do povo.
2ª leitura (Rm. 8,8-11) - A vida no Espírito
22. O capítulo 8 de Romanos tem como tema central a vida no Espírito, que se opõe à vida segundo os instintos egoístas. O Espírito Santo, que animou toda a vida de Jesus, se manifesta na vida das comunidades, ajudando-as a recordar o que Jesus fez, a fim de que possam dar continuidade ao projeto do Pai. Vida no Espírito, portanto, é viver do modo como Jesus viveu, doando-se plenamente. A Lei do Espírito é a lei das opções que animaram Jesus e implantaram o projeto de Deus em nossa história.
23. A isso se opõe a vida "segundo a carne". Para Paulo, carne é a pessoa abandonada a si própria e a seu egoísmo, fazendo de si mesmo um ídolo. Quem vive segundo a carne põe-se no centro de tudo: o mundo todo gira ao redor da pessoa e de seus interesses. Desse modo as pessoas servem a si próprias, adoram a si próprias e buscam a própria auto-afirmação. Daí nascem os instintos egoístas (que é outro modo de traduzir a palavra carne). Viver segundo a carne é pautar a vida por critérios contrários aos de Jesus, que foram os critérios da doação e entrega aos outros. Aí não reside o Espírito de Deus. É por isso que Paulo afirma: "Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus" (v. 8).
24. Ao sermos batizados, recebemos o Espírito que animou a vida de Jesus. Também nós somos movidos pelo Espírito, pois ele habita em nós (v. 11). Por isso o cristão não se coloca no centro do mundo; pelo contrário, o centro de sua vida é a pessoa de Jesus e seu projeto e a pessoa dos outros com suas necessidades.
25. O Espírito é a força do Pai que gerou Jesus no seio de Maria. Ele é, portanto, força de encarnação. Viver nele é encarnar-se na realidade da mesma forma que Jesus, pois quem não se encarna jamais será capaz de sentir os apelos da humanidade, nem será capaz de colaborar positivamente na trans-formação da sociedade. Os que vivem segundo o Espírito entendem que libertação é sair de si para os outros, da mesma forma que Jesus, voltado para o seio do Pai, saiu do Pai e veio morar no meio de nós.
Pistas para reflexão
26. As leituras deste domingo são um apelo à libertação. Deus não quer que seu povo, suas criaturas, sejam ossos ressequidos abandonados nos túmulos. Ao contrário, pela força de sua Palavra promete e liberta seu povo de qualquer espécie de servidão e morte (Ez. 37,12-14; 1ª leitura).
27. Jesus ama a humanidade e se solidariza com os Lázaros, Martas e Marias de todos os tempos, ordenando que soltemos as amarras que prendem os dominados. Nem sequer a morte física dos seus amados e as tramas diabólicas que seus adversários lhe armam serão capazes de impedir o curso vitorioso de sua ressurreição (Jo 11,1-45; evangelho). Por isso nos perguntamos: Onde e como estamos soltando as amarras dos que hoje são condenados a morrer?
28. Jesus morreu e ressuscitou, comunicando-nos seu Espírito. Viver segundo o Espírito é fazer nossas as opções de Jesus, traduzidas em doação e entrega de si aos outros (Rm. 8,8-11; 2ª leitura). O que é uma política "segundo a carne" e uma política "segundo o Espírito"? Quem a comunidade (Igreja) põe como centro de atenção? O que significa agradar a Deus num tempo de tantas desigualdades e discriminações sociais como o nosso?
padre José Bortolini




Jesus acorda seu amigo Lázaro
Vamos nos aproximando da Semana Santa e os temas quaresmais cada vez mais nos prepararam para viver o mistério pascal de Cristo e de cada um de nós. Hoje é o domingo de Lázaro. Hoje é o domingo do Cristo que afirma ser ele a vida e a ressurreição.
Lázaro adoecera e suas irmãs mandaram avisar a Jesus. Os mensageiros usam uma linguagem delicada e a frase que dizem revela o afeto entre Jesus e o doente: “Senhor aquele que amas está doente!”
Muitas vezes Jesus esteve diante do mistério da doença e da morte.  Estes são sempre acontecimentos mais ou menos trágicos na trajetória humana. Há essas doenças que chegam e passam na passarela da vida. Algumas chegam para ficar. A realidade é mais doída quando vem a morte: entes queridos que levamos ao cemitério, pessoas que morrem inopinadamente vítimas de tiros de assaltantes desalmados,  famílias inteiras soterradas nos desbarrancamentos, gente que morre em acidentes de estrada.  A morte é sempre um mistério.
O amigo de Jesus, Lázaro, tinha morrido. O sono de Lázaro e o sono da morte se conjugam. Os discípulos têm ainda dúvidas a respeito da morte do amigo de Jesus. Abertamente Jesus  diz:  Lazaro está morto.
Há o encontro com Marta. “Se tivésseis aqui meu irmão não teria morrido”. O Jesus do evangelista João muda da plano. Não fala da morte corporal, mas de uma vida para além dessa morte. Inquire a respeito da fé de sua amiga nessa transmutação dos planos: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá.  Crês isso? Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.  Jesus aponta para um horizonte diferente. Para uma vida em plenitude.   Maria que estava casa sabendo que Jesus chegara vai ao seu encontro  e caindo de joelhos aos pés de Jesus diz o mesmo que a irmã:  “Se tivésseis estado aqui o meu irmão não teria morrido”.
Lá está Jesus com a notícia da morte do amigo, com a dor de Marta e essa Maria que se ajoelha diante dele toda encolhida de dor... Ah! A ]morte...Jesus está com as cordas da sensibilidade tensas. Ele mesmo em breve deveria enfrentar essa dura realidade. Ele estava diante do túmulo de seu amigo mas pensava, quem sabe, nos pormenores de sua morte que, segundo tudo indicava, poderia acontecer a cada instante.  Maria chorava. “Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido e perguntou: “Onde o colocastes?” Responderam: “Vem ver, Senhor”. E Jesus  chorou. Então os judeus disseram: “Vede como ele os amava!”
Jesus coloca o gesto da reanimação do cadáver do amigo. Olha para o Pai, afirma que vai realizar o sinal para que os circunstantes creiam. Grita: “Lázaro, vem para fora!”
Jesus acordou seu amigo do sono da morte e o entregou aos seus.
Concluímos nossa reflexão com palavras do prefacio deste domingo: “Verdadeiro homem, Jesus chorou o amigo Lázaro, Deus vivo e eterno ele o ressuscitou, tirando-o do túmulo. Compadecendo-se da humanidade que jaz na morte do pecado, por seus sagrados mistérios ele nos eleva ao reino da vida nova”.
frei Almir Ribeiro Guimarães




Ressurreição e vida
Como nos dois domingos anteriores, também o 5º domingo quaresmal, antigamente chamado “da Paixão”, é marcado por um dos grandes episódios do Quarto Evangelho: a ressurreição de Lázaro (evangelho).
Com isso, não só se narra um dos últimos episódios antes da morte de Jesus, provocando ódio mortal nas autoridades judaicas, mas ainda se prefigura a sua ressurreição: o episódio de Lázaro conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Cristo (11,55).
Também a 1ª leitura está sob o signo da ressurreição: a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus (Ez. 37).
A 2ª leitura, de Rm. 8, fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo está morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. A liturgia de hoje, portanto, abre uma perspectiva tanto sobre nossa ressurreição quanto sobre a de Cristo, perspectiva que sustenta nossa conversão pascal.
O salmo responsorial, Sl. 130 (129), ilustra isso, como também a exortação de Paulo no começo da 2ª leitura: já não podemos viver segundo a carne. A presentificação do Mistério Pascal deve se tornar eficaz em nós. Melhor, o Mistério só se torna presente, na medida em que opera algo em nós. A comemoração da ressurreição de Cristo é a celebração da nossa renovação, da nossa vida de ressuscitados pelo Espírito. Hoje podemos meditar sobre um antiqüíssimo tema batismal: morrer em Cristo para com ele ressuscitar (Rm. 6,1ss). Morrer e ressuscitar, pois a glória é alcançada através da doação, por amor, até a morte, como lembra a oração do dia.
Podemos meditar também as palavras misteriosas do evangelho: “eu sou a ressurreição e a vida”. A realidade disso depende do crer em Jesus: “Todo aquele que, na sua vida, crer em mim, não morrerá, mas tem a vida eterna”. Para João, na fé já se torna presente a realidade definitiva (escatologia presente, antecipada). Aderir a Jesus Cristo, como seu amigo Lázaro fez, significa aderir à Vida em pessoa (cf. Jô 1,3s). Por ser o amigo de Jesus, Lázaro é escolhido para ser o sinal de uma vida que não morre, mesmo se o corpo morre (cf. 11,25). Todo o que adere assim a Cristo já passou da morte para a vida (Jo 5,24). É esse o significado profundo de nossa fé – fé que os catecúmenos abraçam na noite pascal e nós proclamamos, renovada, na mesma ocasião: confiar-se a Jesus, que enfrenta o ódio, as trevas, o pecado.... até a morte por amor aos que ele veio salvar. Confiar que Jesus teve realmente razão em ter-se esgotado pelos seus em fidelidade até o fim (cf. Jo 13,1); e assumir as conseqüências disso, ou seja, enveredar no mesmo caminho, ainda que não se tenha a pureza nem a radicalidade da doação do filho unigênito, que Deus permitiu que morresse para provar até onde vai o amor (Jo 3,16; 1Jo 3,16). Portanto, a vida eterna se torna uma realidade para nós, desde já, quando vivenciamos, pela fé em Jesus Cristo, a sua doação até a morte. Este é o sentido de nossa fé, de nosso batismo, de nossa páscoa. O Espírito faz viver os nossos corpos mortais apesar da morte; faz-nos viver a vida de Deus no meio da morte. No meio da morte, estamos na Vida...
Ora, convém considerar não apenas o alto teor teológico deste evangelho, mas também seu profundo humanismo. Embora Jesus veja na doença de Lázaro uma oportunidade de Deus revelar sua glória, é verdadeira a emoção por causa da morte do amigo. Isso significa que os sinais de Deus se encarnam em autêntica humanidade. Foi o amor de Jesus por Lázaro que o fez rezar ao Pai e o devolver seu amigo à vida. Assim, a nossa vida renovada em Cristo deverá ser não menos, mas mais profundamente humana ainda, para “encarnar” sempre melhor o amor de Deus em nós (prefácio, oração do dia).
Johan Konings "Liturgia dominical"




João convida sua comunidade a acreditar na vida acima da morte. Morrer e ressuscitar são as verdades teológicas apresentadas: morrer em Cristo para ressuscitar na sua glória.
Jesus liga a ressurreição de Lázaro à fé na ressurreição da sua própria pessoa quando diz: “Eu sou a ressurreição e a vida.”
Este evangelho narra uma das poucas vezes em que Jesus chora, o que demonstra a relação de amor e fraternidade que existe entre Ele, Lázaro, Marta e Maria que representam toda a humanidade. Um amor que gera confiança e solidariedade em situações difíceis.
A mensagem de aflição das irmãs de Lázaro vai de Betânia, que fica perto de Jerusalém, até Jesus: “Senhor aquele que tu amas está doente”. É uma mensagem tão simples e esperançosa que bem podia
ser de tantas pessoas que hoje em dia tem seus entes queridos doentes, mas apesar de toda aflição das irmãs, Jesus espera mais dois dias antes de seguir até Betânia para que se cumpra o propósito existente na doença de Lázaro.
A doença que provoca a morte não é sinal de que Deus não ama a humanidade. Para Ele, a doença que conduz à morte é de outro tipo: trata-se do pecado, que é conseqüência de uma vida social injusta. Jesus não livra somente da morte física, ao contrário, Ele dá novo sentido a ela. Assim, os que crêem não têm motivos para temer a morte.
Quando Jesus chega em Betânia, já se completaram quatro dias da morte de Lázaro, o que para o povo de Deus significava o fim de todas as esperanças, pois, o corpo já estava em decomposição. Marta, em desespero, é a primeira a se apresentar diante de Jesus, acreditando ser a morte, o fim. Ele, porém, a faz acreditar na vida que é eterna, e ela como uma missionária, leva à sua irmã a boa nova, trazendo-a a presença Dele. A partir daí existe um movimento voltado para a vida: Jesus, seus discípulos, Marta, Maria e todos os que se encontram, consolando as duas irmãs, se dirigem ao túmulo onde Jesus, de fora, chama Lázaro para voltar à vida. Lázaro, ouvindo ao chamado, dirige-se para fora do túmulo, para junto da presença de Jesus que é a própria vida, mas ainda está preso às ataduras da morte. Jesus, então, ordena que todos o ajudem a se livrar delas e, com isso, deixa a mensagem de compromisso para todo cristão, de manter seu irmão livre das ataduras do pecado que leva à morte.


Pequeninos do Senhor



O último sinal
A ressurreição de Lázaro conclui a série dos sinais realizados por Jesus, ao longo do seu ministério, e, de certo modo, prepara o caminho para o sinal definitivo: sua ressurreição. O último sinal contém elementos importantes para a correta compreensão do que estava para acontecer.
Jesus é apresentado como vencedor da morte e doador da vida. Não importava que o amigo estivesse doente, morresse e depois passasse quatro dias sepultado. O Messias Jesus era suficientemente poderoso para chamá-lo de volta à vida.
Quem estivera morto levanta-se do sepulcro e volta para a vida, obedecendo à ordem dada por Jesus. Este se apresenta como o princípio e a causa da ressurreição da Lázaro. A ressurreição de Jesus acontecerá por que traz dentro de si uma força divina, que faz jorrar a vida onde reina a morte.
A ressurreição de Lázaro possibilitará aos discípulos solidificarem sua própria fé. Jesus se alegra por eles não terem encontrado Lázaro com vida. Assim, teriam a chance de testemunhar uma manifestação inquestionável do poder do Mestre, e, por conseguinte, crerem nele.
Por sua vez, o diálogo com Marta e Maria, em torno da fé na ressurreição dos mortos, põe as bases para a compreensão da gloriosa ressurreição do Senhor.
Desta forma, os discípulos foram preparados para enfrentar o impacto da morte iminente do Mestre.
padre Jaldemir Vitório




Catequese sobre a ressurreição.
Estamos praticamente às portas da Semana Santa; no próximo domingo, o domingo de Ramos e da paixão do Senhor, entraremos na Semana Santa. O Evangelho desse quinto domingo da Quaresma é uma catequese sobre a ressurreição. Situado no livro dos sinais, nosso relato é o sétimo e último sinal que Jesus realiza. Não nos esqueçamos de que a finalidade dos sinais é conduzir os discípulos, o leitor do evangelho, nós todos à fé em Jesus Cristo. Dizer que se trata do sétimo sinal significa que ele é o maior de todos os sinais, a plenitude dos sinais. Com esse relato, o autor do evangelho prepara o leitor para entrar com esperança nos relatos da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Estar longe de Jerusalém, lugar da habitação de Deus, era como estar morto, como perder o sopro de Deus. Por essa razão, Ezequiel utiliza a metáfora da abertura das sepulturas. A distância de Deus fazia o povo experimentar a falta da vida. Por isso, o texto termina com a promessa do sopro de Deus que faz viver.
O sopro de Deus faz viver para além da morte. No centro do texto do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida […]”. É pela fé que se participa dessa vida nova, transfigurada. A pergunta que provoca e desafia a fé de Marta e a nossa fé é a seguinte: “Crês nisto?” Marta responde afirmativamente, pois ela é no relato símbolo do discípulo perfeito que põe a sua confiança no Senhor. Diante da morte há duas atitudes possíveis, representadas por Marta e sua irmã Maria: ficar prisioneiro do círculo da morte e do luto (Maria) ou romper com esse círculo pela adesão ao Senhor da vida. Quando Marta ouviu dizer que Jesus estava próximo, saiu correndo ao seu encontro; Maria, no entanto, permaneceu em casa, sentada, mergulhada no luto e na tristeza. A presença do Senhor faz surgir a esperança. Marta que crê na ressurreição de Cristo, na vida que ele dá, será para sua irmã Maria mensageira de um chamado do Senhor que a faz sair do mundo da morte para estar diante daquele que é o Senhor da vida. Para a nossa reflexão, a pergunta que se nos impõe a partir do relato é a seguinte: com qual das duas irmãs você, neste momento, se identifica? Você é portador de que mensagem? Você se identifica com Marta, que rompe o círculo da morte e deposita sua confiança no Senhor, que dele recebe a luz, a vida verdadeira, ou você se identifica com Maria, prisioneira do luto, da morte e da falta de fé?
Carlos Alberto Contieri,sj




De hoje a oito estaremos entrando na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último domingo antes dessa grande semana, a liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida.
Aqui, não estamos falando de modo figurado, metafóricos! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o meu Espírito, para que vivais!” É em Jesus que esta promessa se cumpre, é nele que somos arrancados das sepulturas da vida e da sepultura da morte; é no seu Espírito Santo, derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!
Jesus é a própria Ressurreição; ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude da vida, da nossa existência: nele, o nosso caminho termina não no Nada do absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória. Sem ele, seríamos nada, sem ele, tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: “De que nos valeria ter nascido, se não nos redimisse em seu amor?” – é o que vai perguntar a liturgia da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo para viver, de um sentido para a existência, Jesus se nos apresenta como a própria vida!
Mas, escutemo-lo falar, ele mesmo nos Evangelho deste domingo. Deixemos que ele nos fale da vida, que ele mesmo nos ensine a viver!
Lázaro estava doente, sofrendo; depois, morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda do Senhor para curar o irmão... E Jesus não vai; Jesus demora-se. Quantas vezes fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela!” E, pensemos bem: "Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar em que se encontrava”... Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, os nossos tempos e modos não são os dele. “Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido...” Jesus sentiu a morte de Lázaro, Jesus “ficou profundamente comovido” e chorou por Lázaro, mas não impediu sua doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais compreenderemos seu modo de agir! Ele nos ama, ele é fiel, ele se preocupa conosco, ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos seu modo de agir no mundo e na nossa vida! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a glória de Deus, em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!
Então, Jesus consola Marta e Maria. Jesus lhes promete a Ressurreição. Como todo judeu, as irmãs esperam a Ressurreição no Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, faz uma das revelações mais impressionantes de todo o Evangelho: “Eu sou a Ressurreição! Eu sou a Vida!” Atenção! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados! A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus! A Ressurreição não é uma coisa, uma realidade impessoal! Não! A Ressurreição é uma pessoa: ela tem coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é Jesus em pessoa: “Eu sou a Ressurreição e a Vida! Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá!” É ele quem vem nos buscar, é na força dele que seremos erguidos da morte, é nele que nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: “quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre!” Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza dessas palavras! Caríssimos, “Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no seu Filho” (1Jo 5,11), esta Vida é o seu Filho!
Estamos para celebrar a Páscoa. Não esqueçamos que é para que tenhamos a vida que o nosso Jesus se entregou por nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela sua ressurreição (cf. 1Pd. 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, derramou sobre nós esse Espírito de vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: “Se o Espírito do Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos  mortais por meio do Espírito  que habita em vós!”
É esta a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza! E já possuímos, como primícias, como garantia o Espírito Santo de ressurreição. Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: “Os que vivem segundo a carne, segundo o pecado, não podem agradar a Deus! Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito” do Cristo Jesus! Então, vida nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Renovemo-nos! Convertamo-nos! Que as observâncias da santa Quaresma, o combate aos vícios, a abstinência dos alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração renovado a santa Páscoa – deste ano e aquela, da Vida eterna!
dom Henrique Soares da Costa




Neste 5º domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.
Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu batismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.
1ª leitura: Ez. 37,12-14 – AMBIENTE
Ezequiel é chamado “o profeta da esperança”. Desterrado na Babilônia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquim, quando Nabucodonosor conquista, pela primeira vez, Jerusalém e deporta para a Babilônia um primeiro grupo de jerusalimitanos), Ezequiel exerce aí a sua missão profética entre os exilados judeus.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (altura em que sentiu o chamamento de Deus) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados é encaminhada para a Babilônia). Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar… Eles não só não vão regressar em breve a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam a multiplicar os pecados e infidelidades) vão fazer companhia aos que já estão desterrados na Babilônia.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C., até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdócio e sem culto, os exilados estão desesperados e duvidam da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus libertador e salvador não os abandonou.
O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence à segunda fase. Faz parte da famosa “visão dos ossos calcinados” (cf. Ez. 37). Ezequiel descreve a visão de uma planície cheia de ossos calcinados e sem vida; mas, na visão do profeta, o Espírito do Senhor sopra sobre os ossos calcinados e eles são revestidos de pele, de músculos e ganham vida. Nesta parábola, os ossos calcinados representam o Povo de Deus, que jaz abandonado, sem esperança e sem futuro, no meio da planície mesopotâmica.
MENSAGEM
A situação de desespero em que estão os exilados é uma situação de morte. Eles sentem-se próximos da ruína e do aniquilamento e não vêem no horizonte quaisquer perspectivas de futuro. O texto define esta situação de ausência total de esperança como “estar no túmulo”.
No entanto, é aqui que Deus entra. Jahwéh vai transformar a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em libertação. O que é que Deus vai fazer, nesse sentido?
Em termos concretos, Jahwéh promete ao Povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de felicidade e de paz… Mas Deus vai fazer ainda mais: vai derramar o seu Espírito (o “ruah”) sobre o Povo condenado à morte.
Esta referência à ação do Espírito de Deus na revivificação do homem coloca-nos no mesmo contexto de Gn. 2,7: no homem que criou do barro, Deus infundiu o seu “hálito de vida” (“neshamá”) para o tornar um ser vivente; aqui, sobre o Povo que jaz no túmulo, Deus “infunde o seu Espírito” (“ruah” - Ez. 37,14). Trata-se, portanto, de uma nova criação.
No entanto, o “ruah”, que aqui é transmitido ao Povo que jaz no túmulo, é mais do que a simples “força vital”, que dá vida física ao homem: é a vida divina que transforma completamente os homens, fazendo com que os corações de pedra – duros, insensíveis, auto-suficientes – se transformem em corações de carne, sensíveis e bons, capazes de amar Deus e os irmãos (cf. Ez. 36,26-27). Esta nova criação vai, portanto, muito mais longe do que a antiga criação.
Então, com um coração de carne capaz de compreender o amor, o Povo reconhecerá a bondade de Deus, a sua fidelidade à Aliança e às promessas que fez ao seu Povo.
A questão mais significativa é que, apesar das aparências, Deus não abandona o seu Povo à morte. Mesmo quando tudo parece perdido e sem saída, Deus lá está, transformando o desespero em esperança, a morte em vida. Jahwéh é o Deus da vida, que encontra sempre formas de transmitir vida ao seu Povo. Em cada instante da história Ele está presente, recriando o seu Povo, transformando-o, renovando-o, encaminhando-o para a vida plena.
ATUALIZAÇÃO
• Na nossa existência pessoal passamos, muitas vezes, por situações de desespero, em que tudo parece perder o sentido. A morte de alguém querido, o desmoronar dos laços familiares, a traição de um amigo ou de alguém a quem amamos, a perda do emprego, a solidão, a falta de objetivos lançam-nos muitas vezes num vazio do qual não conseguimos facilmente sair. A Palavra de Deus garante-nos: não estamos perdidos e abandonados à nossa miséria e finitude… Deus caminha ao nosso lado; em cada instante Ele lá está, tirando vida da morte, “escrevendo direito por linhas tortas”, dando-nos a coragem de “sair do sepulcro” e avançar mais um passo ao encontro da vida plena.
• Mais: Deus recria-nos, cada dia, oferecendo-nos o Espírito transformador e renovador, que elimina dos nossos corações o orgulho e o egoísmo (afinal, os grandes responsáveis pelo sofrimento, pela injustiça, pela violência) e transformando-nos em pessoas novas, com um coração sensível ao amor e às necessidades dos outros.
• Ver os telejornais ou ler os jornais é – mais do que nos mantermos a par dos passos que o mundo vai dando – um autêntico exercício de masoquismo: parece que só há dramas, sofrimentos, injustiças e violências, como se o mundo fosse um imenso campo de morte. No entanto, nós os crentes sabemos que, apesar do sofrimento que faz parte da condição de fragilidade em que vivemos, Deus está presente na história humana, criando vida e oferecendo a esperança aos homens nesses mil e um gestos de bondade, de ternura e de amor que acontecem a cada instante (e que não chegam aos jornais ou às objetivas da televisão porque “não vendem” e, por isso, não são notícia). A Palavra Deus que hoje nos é proposta sugere que o crente – pelo simples fato de acreditar em Deus – deve ser um arauto da esperança.
• É sempre Deus – e só Deus – que oferece aos homens a vida e a esperança… No entanto, Deus age no mundo através de homens – como Ezequiel – que distribuem a vida nova de Deus, com palavras e com gestos. Já pensei que Deus me chama a ser uma luz de esperança no mundo? Tenho consciência de que é através dos meus gestos e das minhas palavras que Deus oferece a sua vida aos homens meus irmãos?
2ª leitura: Rm. 8,8-11 – AMBIENTE
Já dissemos, noutras circunstâncias, que a Carta aos Romanos é um texto sereno e didáctico, no qual Paulo faz uma espécie de resumo do seu pensamento teológico e expõe a sua concepção daquilo que é essencial na mensagem cristã. Numa época (anos 57/58) em que existem problemas graves de entendimento e de perspectiva entre os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo, Paulo sublinha a unidade da revelação e da história da salvação: Deus tem um projeto de salvação e de vida plena, que se destina a todos os homens, sem exceção.
Depois de provar que todos os homens (judeus e pagãos) vivem no domínio do pecado (cf. Rm. 1,18-3,20), mas que a “justiça de Deus” oferece a vida a todos, sem distinção (cf. Rm. 3,21-5,11), Paulo mostra como é que, através de Jesus Cristo, essa vida se comunica ao homem (cf. Rm. 5,12-8,39).
Indo mais ao pormenor: como é, então, que a vida de Deus se comunica ao homem? Paulo desenvolve o seu pensamento de acordo com a seguinte sequência: a obediência de Cristo ao plano do Pai fez com que a graça da salvação fosse oferecida a todos os homens (cf. Rom 5,12-20); acolhendo essa graça e aceitando receber o batismo, os homens tornam-se todos participantes do dom de Deus (cf. Rm. 6,1-23); a adesão a Cristo faz os homens livres das cadeias do egoísmo e do pecado e transforma-os em homens novos (cf. Rm. 7,1-25); e é o Espírito (dado ao crente no batismo) que potencia essa vida nova (cf. Rm. 8,1-39).
MENSAGEM
O Espírito é, verdadeiramente, a personagem central do capítulo 8 da Carta aos Romanos (o termo “pneuma” – “espírito” – aparece trinta e quatro vezes na Carta aos Romanos; e, dessas trinta e quatro, vinte e uma são neste capítulo). De acordo com a perspectiva teológica de Paulo, o Espírito é o responsável pelo fato de a vida nova que Deus oferece ao homem crescer e se desenvolver.
Neste capítulo, Paulo desenvolve uma das suas mais famosas antíteses: “carne”/”Espírito”. “Viver segundo a carne” significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de Deus: o “homem da carne” é o homem do egoísmo e da auto-suficiência, cujos valores são o ciúme, o ódio, a ambição, a inveja, a libertinagem (cf. Gal. 5,19-21); “viver segundo o Espírito” significa, em Paulo, uma vida vivida na órbita de Deus, pautada pelos valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança (cf. Gal. 5,22-23).
Paulo recorda aos crentes, no texto que nos é proposto, que o cristão, no dia do seu batismo, optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive sob o domínio do Espírito – isto é, vive aberto a Deus, recebe vida de Deus, torna-se “filho de Deus”. Identifica-se, portanto, com Cristo; e assim como Cristo – depois de uma vida vivida “no Espírito” (isto é, depois de uma vida de renúncia ao egoísmo e ao pecado e de opção por Deus e pelas suas propostas) – ressuscitou e foi elevado definitivamente à glória do Pai, assim o cristão está destinado à vida nova, à vida plena, à vida eterna.
É, pois, o Espírito – presente naqueles que renunciaram à vida da “carne” e aderiram a Jesus – que liberta os crentes do pecado e da morte, que os transforma em homens novos e que os leva em direção à vida plena, à vida definitiva.
ATUALIZAÇÃO
• Na verdade, no dia do meu batismo, eu escolhi a vida “segundo o Espírito” (provavelmente, fui batizado muito pequenino, numa altura em que não tinha consciência plena do que isso significava; mas, mais tarde, tive a oportunidade – em vários momentos da minha caminhada cristã – de validar e confirmar essa opção inicial). A minha vida tem sido coerente com essa opção? A minha vida tem-se desenrolado à margem de Deus e das suas propostas (“vida segundo a carne”) ou na escuta atenta e consequente dos projetos de Deus (“vida segundo o Espírito”)?
• O batizado é alguém que escolheu identificar-se com Cristo – isto é, alguém que escolheu viver na obediência aos planos do Pai e no dom da vida em favor dos irmãos. O exemplo de Cristo garante-me: uma vida gasta desse jeito não termina no fracasso, mas na vida definitiva, na felicidade total. A realização plena do homem não está nos valores efêmeros (muitas vezes propostos como os valores mais fundamentais), mas no amor e no dom da vida. É daí que brota a ressurreição.
Evangelho: Jo 11,1-45 – AMBIENTE
O Evangelho segundo João procura apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos “sinais” da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a ação criadora e vivificadora do Messias.
O texto que hoje nos é proposto é, exatamente, a quinta catequese (a da vida) do “Livro dos Sinais”. Trata-se de uma narração única, que não tem paralelo nos outros três Evangelhos.
A cena situa-nos em Betânia, uma aldeia a Este do monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. O autor da catequese coloca-nos diante de um episódio – um triste episódio – familiar: a morte de um homem. A família mencionada, constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro), parece conhecida de Jesus: no v. 5, diz-se que Jesus amava Marta, a sua irmã Maria e Lázaro. A visita de Jesus a casa desta família é, aliás, mencionada em Lc. 10,38-42; e João tem o cuidado de observar que a Maria, aqui referenciada, é a mesma que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos (v. 2, cf. Jo. 12,1-8).
MENSAGEM
A família de Betânia apresenta algumas características dignas de nota…
Em primeiro lugar, o autor da narração não faz qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos. Além disso, João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos” (vs. 1.2b.3.5.19.21.23.28.32.39). A palavra “irmão” (“adelfós”) será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo 20,17); e este apelativo será comum entre os membros da comunidade cristã primitiva (Jo 21,23).
Por outro lado, notemos a forma como é descrita a relação entre Jesus e esta família de irmãos… Trata-se de uma família amiga de Jesus, que Jesus conhece e que conhece Jesus, que ama Jesus e que é amada por Jesus, que recebe Jesus em sua casa.
Um fato abala a vida desta família: um irmão (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs” mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o “irmão” doente e informam Jesus.
A relação de Jesus com Lázaro é de afeto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro; parece, até, atrasar-se deliberadamente (v. 6). Com a sua passividade, Jesus deixa que a morte física do “amigo” se consume. Provavelmente, na intenção do nosso catequista, o pormenor significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do homem, libertando-o da morte biológica; veio, sim, para dar um novo sentido à morte física e para oferecer ao homem a vida eterna.
Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judéia ao encontro do “amigo”. No entanto, a oposição a Jesus está, precisamente, na Judéia e, de forma especial, em Jerusalém. Os discípulos tentam dissuadi-l’O: eles não entenderam, ainda, que o plano do Pai é que Jesus dê vida ao homem enfermo, mesmo que para isso corra riscos e tenha de oferecer a sua própria vida. Jesus não dá atenção ao medo dos discípulos: a sua preocupação única é realizar o plano do Pai no sentido de dar vida ao homem. Jesus não pode abandonar o “amigo”: Ele é o pastor que desafia o perigo por amor dos seus.
Ao chegar a Betânia, Jesus encontrou o “amigo” sepultado há já quatro dias. De acordo com a mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, Lázaro está, pois, verdadeiramente morto. Jesus não elimina a morte física; mas, para quem é “amigo” de Jesus, a morte física não é mais do que um sono, do qual se acorda para descobrir a vida definitiva.
Por esta altura, entram em cena as “irmãs” de Lázaro. Marta é a primeira. Vem ao encontro de Jesus e insinua a sua reprovação: Jesus podia ter evitado a morte do amigo, se tivesse estado presente, pois onde Ele está reina a vida. No entanto, mesmo agora, Jesus poderá interceder junto de Deus, Deus atendê-lo-á e devolverá a vida física a Lázaro. Marta acredita em Deus; acredita que Jesus é um profeta, através de quem Deus atua no mundo; mas ainda não tem consciência de que Jesus é a vida do Pai e que Ele próprio dá a vida.
Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: “teu irmão ressuscitará”. Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à crença farisaica, segundo a qual os mortos haveriam de reviver, no final dos tempos, quando se registrasse a última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…
Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é “a ressurreição e a vida”. Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre. Para que essa vida definitiva possa chegar ao homem é necessário, no entanto, que o homem adira a Jesus e O siga, num caminho de amor e de dom da vida (“todo aquele que vive e acredita em mim, nunca morrerá”). A comunidade de Jesus (a comunidade dos que aderiram a Ele e ao seu projeto) é a comunidade daqueles que já possuem a vida definitiva. Eles passarão pela morte física; mas essa morte será apenas uma passagem para a verdadeira vida. E é essa vida verdadeira que Jesus quer oferecer. Confrontada com esta catequese (“acreditas nisto?”), Marta manifesta a sua adesão ao que Jesus diz e professa a sua fé no Senhor que dá a vida (“acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo”).
Maria, a outra irmã, tinha ficado em casa. Está imobilizada, paralisada pela dor sem esperança. Marta – que falara com Jesus e encontrara n’Ele a resposta para a situação que a fazia sofrer – convida a irmã a sair da sua dor e a ir, por sua vez, ao encontro de Jesus. Maria vai rapidamente, sem dar explicações a ninguém: ela tem consciência de que só em Jesus encontrará uma solução para o sofrimento que lhe enche o coração. Também nas palavras de Maria há uma reprovação a Jesus pelo facto de Ele não ter estado presente, impedindo a morte física de Lázaro. Jesus não pronuncia qualquer palavra de consolo, nem exorta à resignação (como é costume fazer nestes casos): vai fazer melhor do que isso e vai mostrar que Ele é, efetivamente, a ressurreição e a vida.
A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus a chorar (v. 35). Não é pranto ruidoso, mas sereno… Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a sua saudade do amigo ausente. Ele – como nós – sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada; mas a sua dor não é desespero.
Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra (como era costume, entre os judeus). A pedra é, aqui, símbolo da definitividade da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos, cortando qualquer relação entre um e outro.
Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra”: para os crentes, não se trata de duas realidades sem qualquer relação. Jesus, ao oferecer a vida plena, abate as barreiras criadas pela morte física. A morte física não afasta o homem da vida.
A ação de dar vida a Lázaro representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, ergue os olhos ao céu e dá graças ao Pai (vs. 41b-42): a sua oração demonstra a sua comunhão com o Pai e a sua obediência na concretização do plano do Pai. Depois, Jesus mostra Lázaro vivo na morte, provando à comunidade dos crentes que a morte física não interrompe a vida plena do discípulo que ama Jesus e O segue.
A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física. Como é que deve lidar com ela? Com o desespero de quem acha que tudo acabou? Com a tristeza de quem acha que a morte venceu, por algum tempo, até que Deus ressuscite o “irmão” morto, no final dos tempos (perspectiva dos fariseus da época de Jesus)?
Não. Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida e que dá aos seus a vida plena, em todos os momentos. Ele não evita a morte física; mas a morte física é, para os que aderiram a Jesus, apenas a passagem (imediata) para a vida verdadeira e definitiva. Para os “amigos” de Jesus – para aqueles que acolhem a sua proposta e fazem da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos irmãos – não há morte… Podemos chorar a saudade pela partida de um irmão, mas temos de saber que, ao deixar este mundo, ele encontrou a vida plena, na glória de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• A questão principal do Evangelho deste domingo – e que é uma questão determinante para a nossa existência de crentes – é a afirmação de que não há morte para os “amigos” de Jesus – isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos. Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição e aniquilação: é, apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus. A história de Lázaro pretende representar essa realidade.
• No dia do nosso batismo, escolhemos essa vida plena e definitiva que Jesus oferece aos seus e que lhes garante a eternidade. A nossa vida tem sido coerente com essa opção? A nossa existência tem sido uma existência egoísta e fechada, que termina na morte, ou tem sido uma existência de amor, de partilha, de dom da vida, que aponta para a realização plena do homem e para a vida eterna?
• Ao longo da nossa existência nesta terra, convivemos com situações em que somos tocados pela morte física daqueles a quem amamos… É natural que fiquemos tristes pela sua partida e por eles deixarem de estar fisicamente presentes a nosso lado. A nossa fé convida-nos, no entanto, a ter a certeza de que os “amigos” não são aniquilados: apenas encontraram essa vida definitiva, longe da debilidade e da finitude humanas.
• Diante da certeza que a fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como aniquilamento total torna o homem cauteloso e impotente face à opressão e ao poder dos opressores; mas libertando-nos do medo da morte, Jesus torna-nos livres e capacita-nos para gastar a vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho






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